ASPE defende união e respeito

na III Convenção Internacional

dos Enfermeiros

21, 22, e 23 de novembro de 2024 

 


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A Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE) participou ativamente na III Convenção Internacional dos Enfermeiros, uma iniciativa da nossa Ordem que decorreu em Fátima, entre 21 e 23 de novembro. “Valorizar os Enfermeiros é Valorizar a Saúde” foi o tema da sessão que decorreu na manhã de 22 de novembro e que contou com o contributo de Lúcia Leite, Presidente da ASPE. Em destaque estiveram assuntos como o número de sindicatos de Enfermagem, o “acordo histórico”, os fatores-chave da valorização e concursos. 

Sob a moderação da jornalista Vera Lúcia Arreigoso, a mesa adotou um modelo muito semelhante a uma entrevista televisiva ou podcast. E assim, o debate teve início com o facto de existirem muitos sindicatos de Enfermagem. A jornalista do Expresso quis saber se isso é fator de fraqueza ou de força na valorização dos enfermeiros enquanto classe profissional. 


Tendo sido a primeira a intervir, Lúcia Leite desmontou a ideia de existirem muitos sindicatos na Enfermagem, argumentando que se compararmos o número de enfermeiros e o número de médicos, a proporção de sindicatos é idêntica. Se é verdade que na Enfermagem há sete sindicatos, é preciso não esquecer que na Medicina existem quatro, sendo que três destes sindicatos estão agrupados numa Federação, advogou. A Presidente da ASPE recordou que os polícias e os professores são outros exemplos de classes profissionais que possuem diversos grupos sindicais, salientando a vantagem de as pessoas poderem ter mais opções de escolha de quem querem que as represente. “Mau é sermos uma profissão que tem cerca de 20% dos enfermeiros sindicalizados”. 


“Acordo histórico” contestável


Questionada sobre o facto de a ASPE não ter assinado, em setembro, o acordo relativo à revisão das tabelas salariais, Lúcia Leite afirmou perentoriamente que “à ASPE ninguém perguntou se queria assinar esse acordo”. E explicou que as reuniões com a atual equipa da Saúde tiveram início em abril, o protocolo negocial foi firmado a 4 de julho e, desde essa data até 16 de outubro, “nunca nos apresentaram qualquer proposta, nem sequer uma contraproposta às propostas que a ASPE apresentou desde o início”. 


A Presidente da ASPE teve a oportunidade de mencionar que o protocolo negocial assinado com a tutela previa a alteração salarial e a organização do tempo de trabalho através de Acordo Coletivo de Trabalho. Contudo, a proposta que resultou do acordo entre a plataforma dos cinco sindicatos e o Ministério, entretanto publicada no Boletim do Emprego e Trabalho (BTE) prevê efetivamente a terceira revisão à carreira de Enfermagem. Nesse sentido, a ASPE apresentou publicamente e ao Ministério a sua pronúncia relativamente ao documento, por considerar que a proposta, a médio e longo prazo, apresentada não resolve, mas antes agrava injustiças. 


Justiça entre pares: fator-chave para a valorização


Outra das perguntas formuladas centrou-se no que é absolutamente indispensável para valorizar os enfermeiros. A ASPE defendeu que seria muito importante corrigir de uma vez por todas “as injustiças causadas pela carreira de 2019”. Isso significa, concretizou Lúcia Leite, “não continuarmos a ter enfermeiros com mais experiência e mais qualificações a ganhar menos ou igual a enfermeiros mais jovens. É uma questão de justiça entre pares”. Em simultâneo, “é preciso ter uma carreira com visão de futuro”. 


Valorização a partir de dentro


A mesma oradora sublinhou que se hoje fosse feita uma greve semelhante à cirúrgica, o impacto poderia ser igual ou superior, desde que os enfermeiros se valorizem a si mesmos. Isto porque a valorização também depende de uma alteração do status quo. Enquanto os enfermeiros não mudarem a sua postura, “não vamos conseguir fazer nada”, frisou. Cada um dos enfermeiros tem de “se valorizar, de se respeitar, de se dar ao respeito porque o problema é que nós nos submetemos a tudo”.  


Segundo Lúcia Leite, estamos a viver uma crise na profissão e as organizações que a representam precisam de apoiar e empoderar os colegas. “Temos de aceitar as diferenças e não partir do princípio de que só porque pensamos de forma diferente somos maus uns para os outros”. Pelo contrário, afirmou, o crescimento de uma instituição ou profissão “faz-se do desenvolvimento de diferentes ideias”. 


Exemplificando, a Presidente da ASPE lembrou que “há muitos enfermeiros a trabalhar de graça porque as horas não são pagas, muitos a acumular bolsas de horas” que chegam a transitar entre contratos. “E pior: temos uma hierarquia na Enfermagem que o permite, que o persegue e isso não pode continuar a acontecer”. Na prática, “hoje temos enfermeiros a perseguir enfermeiros e, portanto, a mudança tem de ser feita de dentro para fora”. A mesma oradora lembrou que a ASPE tem estado a monitorizar a elaboração de horários em cinco ULS e que se tiver de avançar para tribunal para que a lei se cumpra, assim fará. 


Greve Cirúrgica: missão cumprida


As greves cirúrgicas I e II, decretadas pela ASPE e pelo SINDEPOR no final de 2018 e início de 2019 e que terminaram com uma requisição civil pelo Governo da época, também estiveram em evidência na sessão. Vera Lúcia Arreigoso referiu o impacto que a ação teve junto da opinião pública e do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e questionou se estas greves alcançaram os objetivos a que se propuseram. 


Lúcia Leite confirmou afirmativamente. Segundo a dirigente sindical, as greves cirúrgicas originaram “a mobilização de uma classe” em torno dos 700 colegas que concretizaram as greves e esse facto permitiu criar uma carreira com três categorias, em vez de duas. A presidente da ASPE assumiu, todavia, que a carreira que surgiu do Decreto-lei nº 71 “não foi tudo o que nós queríamos e, portanto, é preciso corrigir”. 



Acrescenta-se que além da ASPE, na sessão estiveram representados quatro dos cinco sindicatos que assinaram um acordo com o Ministério da Saúde: o Sindicato dos Enfermeiros (SE), o Sindicato Independente de Todos os Enfermeiros Unidos (SITEU), o Sindicato Nacional dos Enfermeiros (SNE), o Sindicato Independente Profissionais Enfermagem (SIPEnf). O Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (SINDEPOR), que faz parte da plataforma, e o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) não participaram nesta mesa. 




Revisão de portarias, dotações inseguras e carreiras inovadoras


Já na fase aberta à participação da plateia, uma das enfermeiras presentes perguntou quando está prevista a alteração da portaria dos procedimentos concursais, uma vez que esta permite que o presidente do júri do concurso não tenha a competência exigida a quem está a concorrer. Lúcia Leite informou que em resultado do trabalho conjunto entre a ASPE e a ACSS já foi elaborada uma proposta de revisão da portaria n.º 153/2020, de 23 de junho, e que a mesma já se encontra no Ministério da Saúde a aguardar publicação. As alterações introduzidas pretendem terminar com os enviesamentos de interpretação e incoerências que se têm revelado prejudiciais para os candidatos.


A Presidente da ASPE destacou ainda que o sindicato tem vindo a solicitar a revisão urgente de outras duas portarias: a da Direção de Enfermagem (que ainda se rege pela carreira de 2009) e a que adapta o SIADAP à carreira de Enfermagem. 

Mais: Lúcia Leite perguntou se alguém na sala reconhecia que a instituição onde trabalha cumpre dotações seguras. Na ausência de respostas positivas, a oradora alegou que deve existir apoio entre a Ordem dos Enfermeiros e os sindicatos, mas que a primeira deve ser mais interventiva na fiscalização e monitorização deste fenómeno, porque dotações inseguras colocam em risco utentes e profissionais. 


Por último, a presidente da ASPE alertou a plateia para o facto de as carreiras de enfermagem serem as primeiras da Administração Pública com um novo paradigma. Elas permitem que alguém que tenha anos de exercício de Enfermagem possa concorrer às categorias de Enfermeiro Especialista ou de Enfermeiro Gestor sem ter de começar pela base da carreira. Esta inovação foi intencional para que os enfermeiros que trabalham no estrangeiro pudessem regressar ao SNS, com reconhecimento das suas competências. 




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Três dias de debate


A III Convenção Internacional dos Enfermeiros, organizado pela Ordem dos Enfermeiros (OE), permitiu a discussão de temáticas que muito dizem aos profissionais portugueses, mas também contemplou assuntos que são transversais ao exercício. Exemplos disso foi a Mesa 3, dedicada ao tema “Enfermagem Avançada – Prescrição por Enfermeiros” e a Mesa 5, sob o tema “Saúde Próxima – Gestão da Doença Crónica”. A palestra “Enfrentar Tempestades com Inteligência Emocional” também cativou a atenção de muitos.


“Mais Enfermeiros…. Mais Saúde” foi mais um tema em destaque. O debate moderado por José Alberto de Carvalho, jornalista da TVI que salientou a importância que os profissionais de Enfermagem têm na sua vida e na vida dos seus pais, contou com representantes dos grupos parlamentares do PSD e do Chega, apesar do programa divulgado pela OE incluir membros dos partidos de Esquerda com assento na Assembleia da República. Carlos Martins, Presidente do Conselho de Administração da ULS Santa Maria, foi outro dos preletores. 


De salientar que toda a equipa ministerial marcou presença nesta III Convenção – Ana Paula Martins esteve na Sessão de Abertura, Ana Povo, Secretária de Estado da Saúde, numa das mesas, e Cristina Vaz Tomé, Secretária de Estado da Gestão da Saúde, na Sessão de Encerramento. 

O evento celebrou ainda o 125º aniversário do International Council of Nurses (ICN) e os membros da Ordem dos Enfermeiros que se inscreveram nela em 1999, ano em que a OE foi criada. Lúcia Leite foi uma das agraciadas.


Valor económico dos enfermeiros


Partindo do mote desta III Convenção Internacional dos Enfermeiros – "Tempo de Respostas" – Maria Guimarães, Vice-presidente do Conselho Nacional da ASPE, interpelou a Secretária de Estado da Saúde sobre a intenção do Ministério valorizar os enfermeiros especialistas nuns meros 52€... A questão surgiu no âmbito da Mesa intitulada “Sistemas de Saúde – Valor Económico dos Cuidados de Enfermagem”, que também decorreu na manhã de 22 de novembro.


Escudando-se no facto de estar num evento organizado pela Ordem dos Enfermeiros e não numa mesa negocial, Ana Povo recusou responder à pergunta e preferiu aludir à crise de profissionais de saúde na União Europeia. A Secretária de Estado da Saúde afirmou que a diferenciação é importante, mas destacou a valorização em início de carreira como fundamental para atrair mais jovens para a profissão e assim contrariar o facto de haver vagas a “descoberto” nos cursos de Enfermagem e abandono da profissão.